A medicina sempre fez parte da minha vida. Não só como profissão dos meus — sou filha e neta de médicos, todos também professores da Faculdade de Medicina da UFPE —, mas como algo que moldou a forma como vejo o mundo.
Quando pequena, acompanhava meu avô nas visitas hospitalares aos finais de semana. Eu não podia entrar nas enfermarias, claro, mas esperava por ele nos jardins do Hospital Pedro II ou na pracinha em frente ao Hospital da Polícia ou do lado da antiga entrada do Hospital Português, acompanhada pelas estátuas dos leões. Enquanto esperava, observava tudo. E o que mais me marcava era o carinho com que ele era recebido — por pacientes, enfermeiras, técnicos, colegas, estudantes, residentes… Era como se, mesmo criança, sem entender nada de medicina, eu conseguisse sentir o impacto que ele causava na vida das pessoas.
Em casa, o cenário era o mesmo. Meus avós sempre recebiam em casa jovens médicos, colegas já experientes e professores cirurgia do Recife e de todos os lugares. As conversas — que duravam horas — não eram só sobre casos clínicos ou técnicas cirúrgicas. Eram, sobretudo, sobre ética, humanidade, compromisso. E eu escutava tudo, absorvendo aquele amor pelo ofício que ia muito além da ciência.
Meus pais também seguiram esse caminho. Sempre presentes nos hospitais públicos, no cuidado com os mais vulneráveis, no ensino da medicina, no atendimento generoso aos pacientes que vinham ao consultório que ficava ao lado de casa.
Quando chegou a hora de escolher minha profissão, a decisão foi natural — mas nunca leviana. Eu sabia da responsabilidade que vinha junto. Escolher a medicina foi, para mim, uma forma de continuar uma história que começou muito antes de mim. De seguir um legado, sim, mas também de encontrar o meu próprio caminho dentro dele.